domingo, 21 de março de 2021

O VIVEIRISTA DO TERRAÇO (21/03/2021)

Conheci o Hélio de Mello Filho, um paulistano de 57 anos, que reside no Rio há 16, por indicação da
Mônica Claro. Ela me disse que eu deveria conhecê-lo porque ele tinha transformado o terraço do
 prédio onde mora, em Botafogo, em um viveiro de plantas. Agendei com ele e em um belo dia de sol ardente de verão, lá estava eu subindo com o Hélio a escada que dá acesso ao terraço do prédio, onde me deparei com um viveiro de grande variedade de plantas, muitas delas já produzindo frutos, distribuídas por cerca de 350m² de área descoberta. Tudo mantido com a preciosa ajuda do "seu" Laurentino, que reside e trabalha no prédio há 50 anos. 

Essa singela e inusitada missão começou há cerca de 5 anos, quando o Helio coletou sementes de uma pitangueira do quintal da casa dos seus pais, em São Paulo. Ele as trouxe para o Rio, plantou em uma bandeja de isopor e, surpreendido, viu-as germinar em seu apartamento. Com o crescimento das

pequenas pitangueiras, o terraço logo se mostrou o local adequado para elas, já que não era utilizado pelos moradores, somente pelo "seu" Laurentino, que, além de morar, mantinha lá uma hortinha para uso pessoal. O projeto de uma reforma do terraço, cara e demorada, se mostrou inviável com o tempo, e o local permanecia praticamente sem uso. Hélio, empolgado, passou a coletar sementes em suas caminhadas e produzia mais mudas, sempre auxiliado pelo "Seu" Laurentino. Paralelamente, estudava sobre o cultivo das plantas para garantir que sobrevivessem e para identificar corretamente as espécies cultivadas. Avançou e decidiu fazer a reciclagem do lixo orgânico doméstico em minhocários instalados em um pequeno quartinho do terraço, que também servia como primeiro estágio do viveiro. Com o húmus e o biofertilizante produzidos pelas minhocas, ele tinha adubo da melhor qualidade. 

No inicio os moradores não sabiam dessa atividade, pois o uso do terraço como viveiro foi acontecendo gradativamente, impulsionado pelo fato de que o Hélio era então o síndico. Quando os moradores entenderam o que estava sendo feito, a maioria aprovou, depois de alguns debates. A percepção de que a atividade poderia ser de interesse coletivo fez com que Hélio plantasse cada vez mais, privilegiando espécies frutíferas que tivessem bom desenvolvimento em espaços reduzidos (os vasos), para que mais moradores se interessassem em utilizar o espaço. Plantas, sombra, frutos, confraternizações e cerveja gelada no fim da tarde! Parecia ser uma fórmula simples e agradável. E se  todos os moradores também decidissem reciclar o lixo orgânico que produziam? E se tudo isso tornasse o condomínio um local de baixo impacto para o meio ambiente? Nossas aspirações nem sempre convergem com as dos outros moradores do condomínio, afinal é preciso mudar o estilo de vida também. Mas o fato é que o terraço ficou cada vez mais verde e vários moradores começaram a utilizá-lo, as plantas atraíam várias espécies de pássaros, de borboletas e de outros insetos incríveis, tornando o façanha cada vez mais interessante. Atualmente, um grupo de moradores apoia e desfruta da pequena fazenda urbana no terraço (apesar de haver quem seja contra), as crianças brincam no local e também tem sido muito útil como escape nessa pandemia, com o bônus da vista privilegiada para o Pão de Açúcar/Morro da Urca e para o Corcovado. Para o Hélio, serve também como terapia, com redução da ansiedade, e como atividade física, já que ele pode passar horas seguidas cuidando das mudas. Nas palavras dele, "o prazer de conseguir fazer germinar sementes coletadas em caminhadas ou recebidas dos amigos é indescritível, genuíno e essencial".

Como resultado desses cinco anos de intensa atividade nessa pequena fazenda urbana, Hélio já produziu e doou em torno de 1.700 mudas de árvores, a maioria nativa do Brasil, de diversos biomas, tendo alterado o foco de produção, em dado momento, para espécies exclusivas da Mata Atlântica. As mudas de espécies arbóreas são doadas para dois grupos de Reflorestamento Urbano do Rio, para o Parque do Martelo, no Humaitá, e para amigos que desenvolvem projetos de reflorestamento. As três pitangueiras que inauguraram o viveiro ainda estão lá, pois são do grupo das "residentes".

Definitivamente não é tarefa fácil manter centenas de vasos de diferentes tamanhos em um terraço onde o calor é abrasador no verão, por isso Hélio faz questão de destacar a importância fundamental do 'Seu" Laurentino nessa empreitada, ajudando a levar para o terraço dezenas de sacos de terra coletada em sítios, fazer a troca das plantas para vasos maiores com 100 litros ou mais, inclusive "segurando as pontas" quando o Hélio precisa se ausentar. Esse homem simples, com suas hortaliças, suas plantas medicinais e seu modo de vida naturalmente sustentável, foi a primeira inspiração do Hélio, tendo se tornado também um amigo querido. E Hélio completa: "Divido com ele o mérito do sucesso desse empreendimento".

P.S.: comi um delicioso araçá-da-praia quando visitei o terraço.

Sávio Teixeira (sobre texto-base do Hélio)

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9 comentários:

  1. Que maravilha ter um terraço com tantas plantas. Parabéns ao Hélio de Melo Filho.

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  2. Outro "menino do dedo verde".Abençoado seja!

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  3. Muito legal! Começa com uma muda e depois não para mais.

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  4. Lindo trabalho! O verde muda a paisagem 🌱🌴🌳

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  5. Que beleza! Muito interessante a matéria!

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  6. Fica a sugestão para o edificio Paulo Gentile, que vai da Voluntarios da Patria até a Visconde de Caravelas e tem um terraço perfeito para uma empreitada dessas.

    Parabéns pelo projeto!

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  7. Muito inspirador!!! Parabéns seu Laurentino e Helinho!!

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