Adriana, Sérgio, Cláudia, Cissa, Sávio, Priscila, Christian, Marineth, Miriam e Gerardo
Grotão do Pão de Açúcar(face leste)
Inicio dos trabalhos no Grotão(2003/2004), dominado pelo capim colonião
Expedição para coleta das balas de canhão no Grotão do Pão de Açúcar
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screver sobre esses 9 anos de recuperação ambiental no Pão de Açúcar é remexer num baú de memórias muito agradável, pois foi um trabalho que se impôs pela necessidade pessoal de estar em contato com a natureza (em especial a montanha e as plantas) e ajudar na preservação desse ambiente natural.
Era notório o ciclo perverso capim/queimadas nesse que é um dos mais belos cartões postais do Rio de Janeiro, porta de entrada da cidade pelo mar e costado luxuoso da Urca. Local privilegiado também para se avistar as diversas fortalezas militares existentes nesse portal marítimo da cidade ou subir até um mirante e contemplar os navios que entram e saem da Baía de Guanabara, maravilhados com o panorama espetacular com que fomos brindados.
Montanhista desde meados dos anos 1980, testemunhei alguns desses incêndios e a tragédia ambiental provocada por eles. Incomodava-me profundamente com esses acidentes causados por balões ou provocados propositalmente por usuários do local, que viam nas queimadas a solução para limpar a encosta e se livrarem do incômodo capim. Fogueiras e despachos religiosos também podem ter sido a causa de incêndios.
Minha atuação na recuperação da região teve início ajudando o casal Nóbile Rocha/Sática Murakami, que já atuavam em outra parte do Costão. A partir desse pequeno estágio, adotei a primeira área em 2002, a parte inicial do Costão, até o primeiro mirante. Um ano depois, um grande incêndio no Grotão nos incentivou a adotar essa nova área, cheia de novos desafios. Dividimos a área e fiquei responsável pela recuperação de cerca de metade do Grotão e Nóbile/Sática pela outra metade. O lote inicial de 700 mudas, fornecido pela Prefeitura, foi transportado por uma traineira, porém o local não tem atracadouro ou praia. Toda a beira mar é recheada de blocos rochosos. As mudas foram descarregadas numa grande rocha ao lado da encosta e um sistema de roldanas e cordas viabilizou a descarga e o deslocamento até o local onde ficaram estocadas até o plantio. Estratégia adotada por Nóbile/Sática e Antonio Dias. Este, na época, também ajudou a reflorestar uma área na base da Via Iemanjá, posteriormente adotada por Mário Senna.
Em agosto de 2004 foi iniciado o reflorestamento no Paredão Lagartinho, na face sul. Propus adotar essa área em nome do Centro Excursionista Rio de Janeiro (CERJ), representado na época pelo seu então presidente, Waldecy Mathias Lucena, que acolheu meu projeto com entusiasmo. Nesta área são realizados mutirões nos primeiros domingos de cada mês com os sócios do CERJ, mas aberto também a qualquer interessado em participar. Essa área, de maior dificuldade de recuperação, tinha pouco solo e de qualidade muito ruim no início, porém hoje já apresenta uma grande melhora, com a vegetação em pleno desenvolvimento e solo muito mais fértil.
Uma vertente desses mutirões é a educação ambiental, dando aos voluntários a oportunidade de participar da recuperação dessas áreas e entenderem a importância dessa iniciativa, comprometendo-os com a melhora do ambiente em que vivem. Por extensão, contribuem também com a melhora do planeta.
Vários mutirões foram feitos para transportar lotes menores de mudas para os locais de plantio, tendo sempre a adesão de voluntários entusiasmados. O Costão e o Grotão, que estavam dominados há décadas pelo capim colonião (e outros tipos de capim), hoje são áreas verdes integradas àquele complexo, protegido desde 2006 pela criação do Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca, tombados anteriormente também pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo Departamento Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural (DGPC). A primeira povoação, estabelecida por Estácio de Sá, foi aos pés do Pão de Açúcar, certamente muito bem impressionado com a beleza do cenário natural e com as boas possibilidades de defesa.
Ao longo desses anos de trabalho no Grotão e no Costão, foram encontradas várias balas de canhão, o que trouxe um aspecto arqueológico inesperado ao trabalho, ajudando a contar um pouco da história de nossa cidade. O material está exposto no museu existente dentro da Fortaleza de São João, na Urca.
No dia 20/09/2010 foi assinado o Termo de Adoção com a Prefeitura do Rio, oficializando a parceria já existente com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, relativo às duas áreas na face leste do Pão de Açúcar, dando um caráter mais formal a parceria já existente desde o inicio dos trabalhos com o fornecimento de mudas pela Prefeitura.
Esse é um trabalho voluntário, feito somente nos fins de semana. Uma forma de devolver à montanha, com seu complexo e frágil ecossistema, um pouco do que ela nos brinda em paisagens, trilhas, vias de escalada, fauna e flora. Sinto uma grande satisfação ao ver a diversidade de espécies da mata atlântica novamente predominando nessas áreas e a fauna se fixando novamente.
Parte fundamental desse processo são os Voluntários, convidados periodicamente a ajudar com o transporte de mudas e o plantio. Outros se oferecem para ajudar espontaneamente e ficam por um período maior, entusiasmados pela importância do trabalho e os resultados alcançados. Sou grato a todos. A natureza, no entanto, é a grande beneficiária e por extensão, nós mesmos, que desfrutamos de um ambiente mais saudável e bonito.
Agradeço a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, ao Paulo Gentil (gestor do Munumento), ao Centro Excursionista Rio de Janeiro (CERJ), a Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ), ao Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a todos que, de qualquer forma, apoiaram o projeto.
Sávio
Estimulante
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